Cap. 6 – MANIFESTAÇÕES VISUAIS

Perguntas sobre Aparições
Ensaio Teórico sobre as Aparições
Espíritos Glóbulos
Teoria da Alucinação 

100. De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes são sem dúvidas aquelas pelas quais os Espíritos podem se tornar mais visíveis. Pela explicação desse fenômeno veremos que ele, como os outros, nada tem de sobrenatural. Damos inicialmente as respostas dos Espíritos a respeito do assunto.

        1. Os Espíritos podem se tornar visíveis?
— Sim, sobretudo durante o sono. Entretanto, certas pessoas os vêem também no estado de vigília, mas isso é mais raro.

Nota de Kardec: Enquanto o corpo repousa o Espírito se desprende dos laços materiais, fica mais livre e pode mais facilmente ver os outros Espíritos e entrar em comunicação com eles.
O sonho é uma recordação desse estado. Quando não nos lembramos de nada, dizemos que não sonhamos, mas a alma não deixou de ver e de gozar da sua liberdade. Tratamos aqui mais particularmente das aparições no estado de vigília. – Sobre o estado do Espírito durante o sono ver nº 409 de O Livro dos Espíritos.

          2. Os Espíritos que se manifestam pela visão pertencem a uma determinada categoria?

            —  Não; podem pertencer a todas as categorias, das mais elevadas às mais inferiores.

            3. É permitido a todos os Espíritos manifestarem-se visivelmente?

            — Todos o podem, mas nem sempre tem a permissão nem o desejo de fazê-lo.

            4. Com que fim os Espíritos se manifestam visivelmente?

            — Isso depende; segundo sua natureza, o fim pode ser bom ou mau.

            5. Como pode ser permitido, quando o fim é mau?

            — É então para por à prova aqueles que os vêem. A intenção do Espírito pode ser má, mas o resultado pode ser bom.

            6. Qual o objetivo dos Espíritos que se fazem ver com má intenção?

            — Assustar e muitas vezes vingar-se.

            7. Qual o objetivo dos Espíritos que aparecem com boa intenção?

            — Consolar os que lamentam a sua partida; provar-lhes que continuam a existir e estão perto deles; dar conselhos e algumas vezes pedir assistência para si mesmos.

            8. Que inconveniente haveria em ser permanente e geral a possibilidade de ver os Espíritos? Não seria essa uma forma de tirar a dúvida aos mais incrédulos?

            — Estando o homem constantemente cercado de Espíritos, o fato de vê-los sem cessar o perturbaria, constrangendo-o nas suas atividades, e lhe tiraria a iniciativa na maioria dos casos, enquanto, julgando-se só, pode agir com mais liberdade. Quanto aos incrédulos, dispõem de muitos meios para se convencerem, caso queiram aproveitá-los e se não estiverem cegos pelo orgulho. Sabes de pessoas que viram e nem por isso acreditam, pois dizem que se trata de ilusões. Não te inquietes por essa gente, de que Deus se encarrega.    

        Nota de Kardec: Haveria tanto inconveniente de estarmos sempre na presença dos Espíritos, como em vermos o ar que nos cerca ou as miríades de animais, microscópicos que pulam ao nosso redor. Do que devemos concluir que o que Deus faz é bem feito e que Ele sabe melhor do que nós o que nos convém.

            9. Se a visão dos Espíritos tem inconvenientes, porque é permitida em alguns casos?

            — Para dar uma prova de que nem tudo morre com o corpo e de que a alma conserva a sua individualidade após a morte. Essa visão passageira é suficiente para dar a prova e atestar a presença dos amigos ao vosso lado, não tendo os inconvenientes da visão incessante.

            10. Nos mundos mais adiantados que o nosso a visão dos Espíritos é mais freqüente?

            — Quanto mais os homens se aproximam da natureza espiritual, mais facilmente entra em relação com os Espíritos. É a grosseria do vosso corpo que torna mais difícil e mais rara a percepção dos seres etéreos.

            11. É racional assustar-se com a aparição de um Espírito?

            — Aquele que refletir a respeito há de compreender que um Espírito, seja qual for, é menos perigoso que um vivo. Os Espíritos, aliás, estão por toda parte e não tens a necessidade de vê-los para saber que podem estar ao teu lado. O Espírito que desejar prejudicar alguém pode fazê-lo sem ser visto, e até com mais segurança. Ele não é perigoso por ser Espírito, mas pela influência que pode exercer no pensamento do homem, desviando-o do bem e impelindo-o ao mal.

         Nota de Kardec: As pessoas que tem medo da solidão e do escuro, raramente compreendem a causa do seu pavor. Elas não saberiam dizer do que tem medo, mas certamente deviam recear-se mais de encontrar homens do que Espíritos, porque um malfeitor é mais perigoso em vida do que após a morte. Uma senhora de nosso conhecimento teve uma noite, em seu quarto, uma aparição tão bem definida que acreditou estar na presença de alguém e sua primeira sensação foi de pavor. Certificando-se de que ali não havia nenhuma pessoa, disse a si mesma: Parece que se trata apenas de um Espírito; posso dormir tranqüila.

            12. Aquele que vê um Espírito poderia conversar com ele?

            — Perfeitamente. E é justamente o que se deve fazer nesse caso, perguntando quem é o Espírito, o que deseja e o que se  pode fazer por ele. Se o espírito for infeliz e sofredor, o testemunho de comiseração o aliviará. Se for um Espírito benévolo, pode acontecer que tenha a intenção de dar bons conselhos.

            13. Como o Espírito poderia responder?

            — Às vezes falando, como uma pessoa viva; a maioria das vezes por uma transmissão de pensamentos.

            14. Os Espíritos que aparecem com asas realmente as têm, ou essas asas são apenas uma aparência simbólica?

            — Os Espíritos não tem asas. Não precisam delas, pois podem transportar-se por toda parte como Espíritos. Aparecem dessa forma porque querem impressionar a pessoa a que se mostram. Uns aparecerão com suas roupas habituais, outros envolvidos em panos, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual que representam.

            15. As pessoas que vemos em sonho são sempre as que aparentam ser?

— São quase sempre as mesmas pessoas que o teu Espírito vai encontrar ou que te vêm encontrar.

            16. Os Espíritos zombadores não poderiam tomar a aparência das pessoas que nos são caras e nos iludirem?

            — Tomam aparências fantasiosas para se divertirem a vossa custa, mas há coisas com as quais não lhes é permitido brincar.

            17. Como o pensamento é uma espécie de evocação, compreende-se que possa atrair o Espírito. Mas por que, quase sempre, as pessoas em que mais pensamos, que ardentemente desejamos rever, jamais aparecem nos sonhos, enquanto vemos outras que não nos interessam e nas quais nunca pensamos?

        —  Os Espíritos nem sempre tem a possibilidade de manifestar-se visivelmente, mesmo em sonhos e apesar do desejo que tenhamos de vê-los. Causas independentes da sua vontade podem impedi-los. Quase sempre é também uma prova que o mais ardente desejo não pode afastar. Quanto às pessoas que não interessam, embora não penseis nelas, é possível que pensem em vós. Aliás, não podeis fazer uma idéia das relações no Mundo dos Espíritos, onde reencontrais uma multidão de conhecidos íntimos, antigos e novos, dos quais nem tendes a menor idéia quando acordados.

        Nota de Kardec: Quando não há nenhum meio de controlar as visões ou aparições, podemos sem dúvida levá-las à conta de alucinações, mas quando elas são confirmadas pelos acontecimentos não poderíamos atribuí-las à imaginação. Essas são, por exemplo, as aparições do momento da morte, em sonho ou no estado de vigília, de pessoas em quem não pensávamos e que, por diversos sinais, revelam as circunstâncias absolutamente inesperadas do seu falecimento. Viram-se tantas vezes cavalos empinarem e empacarem diante de aparições que assustavam os cavaleiros. Se a imaginação é alguma coisa entre os homens, seguramente nada é para os animais. Aliás, se as imagens que vemos em sonho fossem sempre conseqüência das preocupações de vigília, nada explicaria o fato, tão freqüente, de jamais sonharmos com as coisas em que mais pensamos.

            18. Por que certas visões são mais freqüentes nas doenças?

            — Elas ocorrem igualmente no estado de perfeita saúde, mas na doença os laços materiais se afrouxam e a fraqueza do corpo deixa mais livre o Espírito, que entra mais facilmente em comunicação com outros Espíritos.

            19. As aparições espontâneas parecem mais freqüentes em certas regiões. Alguns povos são mais bem dotados que outros para essas manifestações?

            — Fizeste um relatório geral das aparições? As aparições, os ruídos e todas as manifestações expandem-se igualmente por toda a Terra, mas apresentam características próprias segundo os povos em que se verificam. Entre estes, por exemplo, a escrita é pouco desenvolvida e não há médiuns escreventes; entre outros eles abundam; além disso há mais freqüência de manifestações ruidosas e de movimento de objetos que de comunicações inteligentes, porque estas são menos apreciadas e procuradas.

            20. Por que as aparições se verificam mais à noite?

            — Pela mesma razão que vês as estrelas à noite e não em pleno dia. A claridade intensa pode ofuscar uma aparição delicada. Mas é errôneo supor que a noite tenha algo de especial para isso. Interpela todos os que as viram, e constatarás que a maioria ocorre de dia.    

        Nota de Kardec: Os fenômenos de aparição são muito mais freqüentes e gerais do que se pensa, mas muitas pessoas não os revelam por medo do ridículo e outras os atribuem à ilusão. Se parecem mais abundantes em certos povos é porque esses conversam mais cuidadosamente as tradições verdadeiras ou falsas, quase ampliadas pelo fascínio do maravilhoso, a que se o aspecto das localidades se presta mais ou menos. A credulidade faz ver, então, efeitos sobrenaturais aos fenômenos mais vulgares; o silêncio da solidão, o escapamento dos caminhos, o rumorejar das florestas, o estrépito das tempestades, o eco das montanhas, a forma fantástica das nuvens, as sombras, as miragens, tudo enfim se presta à ilusão das imaginações simples e ingênuas, que propagam de boa fé aquilo que viram ou que acreditam ter visto. Mas ao lado da ficção há o real,que o estudo sério do Espiritismo consegue livrar dos acessórios ridículos da superstição.

            21. A visão dos Espíritos ocorre no estado normal ou somente durante o êxtase?

     —      Pode ocorrer em condições perfeitamente normais; entretanto, as pessoas que os vêem estão quase sempre num estado especial, próximo do êxtase que lhes dá uma espécie de dupla vista. (Ver O Livro dos Espíritos, nº 447)

            22. Os que vêem os Espíritos o fazem com os olhos?

            — Eles pensam que sim, mas na realidade é a alma que vê. A prova é que podem vê-los de olhos fechados.

            23. Como o Espírito pode tornar-se visível?

            — O princípio é o mesmo de todas as manifestações e está nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, à vontade do Espírito.

            24. O Espírito propriamente dito pode fazer-se visível ou só o faz com a ajuda do perispírito?

            — Na vossa situação material o Espírito só pode manifestar-se com a ajuda do seu invólucro semimaterial. É este o intermediário pelo qual eles agem sobre os vossos sentidos. Graças a esse invólucro é que eles aparecem algumas vezes com a forma humana ou outra qualquer, seja nos sonhos ou no estado de vigília, assim a plena luz como na obscuridade.

            25. Poderíamos dizer que é pela condensação do fluido do perispírito que o Espírito se torna visível?

            — Condensação não é o termo. Trata-se apenas de uma comparação que pode ajudar a compreender o fenômeno, pois não há realmente uma condensação. Pela combinação dos fluidos produz-se no perispírito uma disposição especial, sem possibilidade de analogia para vós, e que o torna perceptível.

            26. Os Espíritos que aparecem são sempre inacessíveis ao fato e não podemos pegá-los?

            —  No estado normal de Espíritos não podemos pegá-los, como pegamos os sonhos. Não obstante, podem impressionar o nosso tato e deixar sinais de sua presença. Podem mesmo, em alguns casos, tornarem-se momentaneamente tangíveis, o que prova a existência de matéria entre eles e vós.

            27. Todos são aptos a ver os Espíritos?

            — Durante o sono, todos. Mas não quando estão acordados. No sono, a alma vê diretamente; quando estais acordados ela sofre em maior ou menor grau a influência dos órgãos. Eis porque as condições não são as mesmas nos dois casos.

            28. Como podemos ver os Espíritos em estado de vigília?

            — Isso depende do organismo, da facilidade maior ou menor do fluido do vidente de se combinar como o do Espírito. Assim, não basta o espírito querer mostrar-se; é também necessário que a pessoa a quem se quer mostrar tenha a aptidão para vê-lo.

            29. Essa faculdade pode desenvolver-se pelo exercício?

            — Pode, como todas as outras faculdades. Mas é daquelas cujo desenvolvimento natural é melhor do que o provocado, quando corremos o risco de superexcitar a imaginação. A visão geral e permanente dos espíritos excepcional e não pertence às condições normais do homem.(1)

            30. Pode-se provocar a aparição dos espíritos?

            — Pode-se algumas vezes, mas muito raramente. Ela é quase sempre espontânea. Para provocá-la é necessário que se possua uma faculdade especial.

            31. Os Espíritos podem fazer-se visíveis com outra aparência, além da humana?

            — A forma humana é a sua forma normal. O Espírito pode variá-la na aparência, mas conservando sempre o tipo humano.

            32. Não podem manifestar-se com a forma de flamas?

            — Podem produzir flamas, clarões, como qualquer outro efeito para demonstrar a sua presença, mas essas coisas não são o próprio Espírito. A flama é quase sempre apenas um efeito óptico ou uma emanação do perispírito. Em todos os casos é somente uma parte do perispírito, que só aparece inteiramente nas visões.(2)

            33. Que pensar da crença que os fogos fátuos são almas ou Espíritos?

                 —   Superstição, produzida pela ignorância. A causa física dos fogos fátuos é bem conhecida.

            34. A chama azul que apareceu sobre a cabeça de Servius Tullius, na infância, foi real ou, apenas uma lenda?

            – Era real, produzida pelo Espírito Familiar que desejava advertir a mãe. Esta, médium vidente, percebeu uma irradiação do Espírito protetor de seu filho. Os médiuns videntes variam de grau no tocante à percepção, como os médiuns escreventes variam na escrita. Enquanto essa mãe via uma chama outro médium poderá ver o próprio Espírito.(3)

            35. Os Espíritos poderiam se apresentar com a forma de animais?

           — Isto pode acontecer, mas são sempre Espírito inferiores os que tomam essas aparências. Mas seriam sempre, em todos os casos, aparências passageiras, pois seria absurdo acreditar que um animal pudesse ser a encarnação de um Espírito. Os animais são sempre animais e nada mais do que isso.(4)

        Nota de Kardec: Somente a superstição pode levar a crer que certos animais são encarnações de Espíritos. É necessário ter uma imaginação muito condescendente ou muito impressionável para ver algo de sobrenatural nas atitudes às vezes um pouco estranhas que eles tomam, mas o medo freqüentemente faz ver aquilo que não existe. Aliás o temor nem sempre é a fonte dessa idéia. Conhecemos uma senhora, por sinal muito inteligente, que estimava demais um gato preto, acreditando que ele possuía uma natureza super animal. Nunca, entretanto ouvira falar de Espiritismo. Se o tivesse conhecido, compreenderia o ridículo da causa de sua predileção, pois a doutrina lhe provaria a impossibilidade dessa metamorfose.

 ENSAIO TEÓRICO SOBRE AS APARIÇÕES

            101. As manifestações mais comuns de aparições ocorrem durante o sono, pelos sonhos: são as visões. Não podemos examinar aqui todas as particularidades que os sonhos podem apresentar.

            Resumiremos dizendo que eles podem ser: uma visão atual de coisas presentes ou distantes; uma visão retrospectiva do passado; e, em alguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Freqüentemente são também quadros alegóricos que os Espíritos nos apresentam como úteis advertências ou salutares conselhos, quando são Espíritos bons; ou para nos enganarem e entreterem as nossas paixões, se são Espíritos imperfeitos. A teoria abaixo se aplica aos sonhos, como a todos os outros casos de aparições. (Ver O Livro dos Espíritas, nº 400 e seguintes)

            Não ofenderemos o bom senso dos leitores refutando o que há de absurdo e ridículo no que vulgarmente se chama de interpretação dos sonhos(5)

            102. As aparições propriamente ditas ocorrem no estado de vigília, no pleno gozo e completa liberdade das faculdades da pessoa. Apresentam-se geralmente com uma forma vaporosa e diáfana, algumas vezes vaga e indecisa. Quase sempre, a princípio, é um clarão esbranquiçado, cujos contornos vão se desenhando aos poucos. De outras vezes as formas são claramente acentuadas, distinguindo-se os menores traços do rosto, a ponto de se poder descrevê-las com precisão. As maneiras, o aspecto, são semelhantes aos do Espírito quando encarnado.

            Podendo tomar toda as aparências, o Espírito se apresenta com aquela que melhor o possa identificar, se for esse o seu desejo. Assim, embora não tenha, como Espírito, nenhum defeito corporal, ele se mostra estropiado, coxo, corcunda, ferido, com cicatrizes, se isso for necessário para identificá-lo. Esopo, por exemplo, não é disforme como Espírito,mas se o evocamos como Esopo, por mais existências posteriores que tenha tido, aparecerá feio e corcunda, com seus trajes tradicionais. Uma particularidade a notar é que, exceto em circunstâncias especiais, as partes menos precisas da aparição são os membros inferiores, enquanto a cabeça, o tronco, os braços e as mãos aparecem nitidamente. Assim, não os vemos quase nunca andar, mas deslizar como sombras. Quanto às vestes, ordinariamente se constituem de um planejamento que termina em longas pregas flutuantes. São essas, em resumo, acrescentadas por uma cabeleira ondulante e graciosa, as características da aparência dos Espíritos que nada conservam da vida terrena. Mas os Espíritos comuns, das pessoas que conhecemos, vestem-se geralmente como o faziam nos últimos dias de sua existência.

            Há os que muitas vezes se apresentam com símbolos da sua elevação, como uma auréola ou asas, pelo que são considerados anjos. Outros carregam instrumentos que lembram suas atividades terrenas: assim um guerreiro poderá aparecer com uma armadura, um sábio com seus livros, um assassino com seu punhal, e assim por diante. Os Espíritos superiores apresentam uma figura bela, nobre e serena. Os mais inferiores têm algo de feroz e bestial, e algumas vezes ainda trazem os vestígios dos crimes que cometeram ou dos suplícios que sofreram. O problema das vestes e dos objetos acessórios é talvez o mais intrigante. Voltaremos a tratar disso num capítulo especial, porque ele se liga a outras questões muito importantes.

            103. Dissemos que a aparição tem algo de vaporoso. Em alguns casos poderíamos compará-la à imagem refletida num espelho sem aço, que apesar de nítida deixa ver através dela os objetos detrás. É geralmente assim que os médiuns videntes a distinguem. Eles as vêem ir e vir, entrar num apartamento ou sair, circular por entre a multidão com ares de quem participa, ao menos os Espíritos vulgares, de tudo o que se faz ao seu redor, de se interessarem por tudo e ouvirem o que diz. Muitas vezes se aproximam duma pessoa para lhe assoprar idéias, influenciá-la, quando são Espíritos bons, zombar dela, quando são maus, mostrando-se tristes ou contentes com o que obtiverem. São, em uma palavra, a contraparte do mundo corporal.

            E assim esse mundo oculto que nos envolve, no meio do qual vivemos sem o perceber, como vivemos entre a miríades de seres do mundo microscópico. A revelação do mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos, foi feita pelo microscópio; o Espiritismo, servindo-se dos médiuns videntes, nos revelou o mundo dos Espíritos, que é também uma das forças ativas da Natureza. Com a ajuda dos médiuns videntes pudemos estudar o mundo invisível, iniciar-nos nos seus hábitos, como um povo de cegos poderia estudar o mundo dos que vêem com o auxílio de algumas pessoas que gozassem da faculdade da visão. (Ver adiante, no cap. XIV; Dos Médiuns, o tópico referente aos médiuns videntes.)

            104. O Espírito que deseja ou pode aparecer reveste algumas  vezes uma forma ainda mais nítida, com todas as aparências de um corpo sólido, a ponto de dar uma ilusão perfeita  e fazer crer que se trata de um ser corpóreo. Em alguns casos, e dentro de certas circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, o que quer dizer que podemos tocar, palpar, sentir a resistência e o calor de um corpo vivo, o que não impede a aparição de se esvaecer com a rapidez de um relâmpago. Nesses casos, já não é só pelos olhos que se verifica a presença, mas também pelo tato.

            Se pudéssemos atribuir à ilusão ou a uma espécie de fascinação a ocorrência de uma aparição simplesmente visual, a dúvida já não é mais possível quando a podemos pegar, e quando ela mesma nos seguras e abraça. As aparições tangíveis são as mais raras. Mas as que tem havido nestes últimos tempos, pela influência de alguns médiuns potentes(6), inteiramente autenticadas por testemunhos irrecusáveis, provam e explicam os relatos históricos sobre as pessoas que reaparecem após a morte com todas as aparências da realidade. De resto, como já acentuamos, por mais extraordinários que sejam semelhantes fenômenos, perdem todo o caráter de maravilhoso quando se conhece a maneira pela qual se produzem e se compreende que, longe de representarem uma derrogação das leis naturais, apresentam apenas uma nova aplicação dessas leis.

            105. O perispírito, por sua própria natureza, é invisível no estado normal. Isso é comum a uma infinidade de fluidos que sabemos existirem e que jamais vimos.

Mas ele pode também, à semelhança de certos fluidos por modificações que o tornem visível, seja por uma espécie de condensação ou por uma mudança em suas disposições moleculares, e é então que nos aparece de maneira vaporosa. A condensação pode chegar ao ponto de dar ao perispírito as propriedades de um corpo sólido e tangível, mas que pode instantaneamente voltar ao seu estado etéreo e invisível.

            (É necessário não tomar ao pé da letra a palavra condensação, pois só a empregamos por falta de outra e como simples recurso de comparação.) Podemos entender esse processo ao compará-lo ao do vapor, que pode passar da invisibilidade a um estado brumoso, depois ao líquido, a seguir ao sólido e vice-versa.

            Esses diversos estados do perispírito, entretanto, resultam da vontade do Espírito e não de causas físicas e exteriores, como acontece com os gases. O Espírito nos aparece quando deu ao seu perispírito a condição necessária para se tornar visível. Mas a simples vontade não basta para produzir esse efeito, porque a modificação do perispírito se verifica mediante a sua combinação com o fluido específico do médium. Ora, essa combinação nem sempre é possível, e isso explica por que a visibilidade dos Espíritos não é comum.

            Assim, não é suficiente que o Espírito queira aparecer, nem apenas que uma pessoa o queira ver é necessário que os fluidos de ambos possam combinar-se, para o que tem de haver entre eles uma espécie de afinidade. É necessário ainda que a emissão de fluido da pessoa seja abundante para operar a transformação do perispírito, e provavelmente há outras condições que desconhecemos. Por fim, é preciso que o Espírito tenha a permissão de aparecer para aquela pessoa, o que nem sempre lhe é concebido, ou pelo menos não o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.(7)

            106. Outra propriedade do perispírito é a penetrabilidade, inerente à sua natureza etérea. Nenhuma espécie de matéria lhe serve de obstáculo: ele atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Não há pois, meios de impedir a entrada dos espíritos, que vão visitar o prisioneiro em sua cela com a mesma facilidade com que visitam um homem no meio do campo.(8)

            107. As aparições no estado de vigília não são raras nem constituem novidade. Verificam-se em todos os tempos. A História oferece-nos grande número de casos. Mas sem remontar ao passado, encontramo-las com freqüências nos nossos dias. Muitas pessoas as tiveram e as tomaram, no primeiro instante, pelo que se convencionou chamar de alucinações. São freqüentes sobretudo nos casos de morte de pessoas distantes, que vêm visitar parentes e amigos. Muitas vezes não tem um objetivo claro, mas podemos dizer que em geral os Espíritos que assim aparecem são atraídos por simpatia. Que examine cada um as suas lembranças e verá que são poucos os que não conhecem fatos dessa espécie, cuja autenticidade não se poderia por em dúvida.

            108. Acrescentaremos às considerações precedentes o exame de alguns efeitos ópticos que deram lugar ao estranho sistema dos Espíritos glóbulos.

            Nem sempre o ar está inteiramente límpido. É então que as correntes de moléculas aeriformes e sua movimentação, produzida pelo calor, se tornam perfeitamente visíveis. Algumas pessoas tomaram isso por  conjuntos de Espíritos agitando-se no espaço. Basta-nos mencionar esta opinião para a refutar. Mas há outra espécie de ilusão, não menos bizarra, contra a qual se deve também precaver.           

O humor aquoso dos olhos tem alguns pontos mal perceptíveis que perderam algo de sua transparência. Esses pontos são como corpos opacos em suspensão no líquido que os movimenta. Eles projetam no ar ambiente e à distância, aumentados pela refração, pequenos discos aparentes, de um a dez milímetros de diâmetro, que parecem nadar da atmosfera. Vimos pessoas tomarem esses discos por Espíritos que as seguiam por toda parte, e no seu entusiasmo vêem figuras nas nuanças da irisação, o que é quase o mesmo que ver uma figura na Lua. Bastaria uma simples observação, feita por elas mesmas, para reconduzi-las à realidade.

Esses discos ou medalhões, dizem elas, além de acompanhá-las repetem os seus movimentos: vão para a direita e para esquerda , para cima e para baixo, segundo elas movem a cabeça. Isso nada tem de estranho, desde que os discos são projetados pelo globo ocular e devem naturalmente obedecer aos seus movimentos. Se fossem Espíritos, deveriam estar adstritos a um movimento demasiado mecânico para seres inteligentes e livres. Papel, aliás, bem cansativo, mesmo para Espíritos inferiores, e com mais forte razão incompatível com a idéia que fazemos dos Espíritos superiores. É verdade que alguns tomam por maus Espíritos os pontos negros ou moscas amauróticas.(9)

            Os discos, assim como as manchas negras, têm um movimento ondulatório restrito a um certo ângulo, e o que aumenta a ilusão é que eles não seguem bruscamente os movimentos da linha visual. A razão é muito simples. Os pontos opacos do humor aquoso, causa primeira do fenômeno, estão em suspensão no líquido e tendem a descer. Sobem com o movimento dos olhos,mas atingindo certa altura, se fixamos o olhar vemos os discos descerem por si mesmos e depois pararem. Sua mobilidade é extrema, pois basta um movimento imperceptível do olho para mudá-los de direção e fazê-los percorrer rapidamente toda a amplitude do arco, no espaço em que a imagem se produz. Enquanto não se provar que essa imagem tem movimento próprio, espontâneo e inteligente, só se pode ver nisso um fenômeno óptico e fisiológico.

            Acontece o mesmo com as centelhas produzidas pela contração dos músculos dos olhos, que aparecem em feixes mais ou menos compactos, e que são provavelmente devidos à eletricidade fosforescente da íris, pois em geral se circunscrevem ao círculo desse disco.

            Semelhantes ilusões só podem resultar de observação imperfeita. Quem tiver seriamente estudado a natureza dos Espíritos, através dos meios oferecidos pela prática doutrinária, compreenderá quanto elas tem de pueril.

     Assim como combatemos as teorias temerárias com as quais atacam as comunicações, pois que decorrem da ignorância dos fatos, também devemos procurar destruir as idéia falsas que decorrem mais do entusiasmo do que da reflexão, e que por isso mesmo produzem mais mal do que bem junto aos incrédulos, já naturalmente dispostos a procurar o lado ridículo.

            109. O perispírito, como se vê, é o princípio de todas as manifestações. Seu conhecimento nos deu a chave de numerosos fenômenos, permitindo um grande avanço à Ciência Espírita e fazendo-a entrar numa nova senda, ao tirar-lhe qualquer resquício de maravilhoso. Nele encontramos, graças aos próprios Espíritos, – pois é explicação da possibilidade de ação do Espírito sobre a matéria, da movimentação dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições. Nele encontraremos a explicação de muitos outros fenômenos ainda por examinar, antes de passar ao estudo das comunicações propriamente ditas. Tanto as compreenderemos, quanto mais nos inteirarmos de suas causas fundamentais. Se bem compreendermos esse princípio, facilmente poderemos aplicá-lo aos diversos fatos que se apresentar à observação.

            110. Longe de nós considerar a teoria que apresentamos como absoluta e como sendo a última palavra na questão. Ela será sem dúvida completada ou retificada mais tarde através de novos estudos. Mas por mais incompleta ou imperfeita que hoje se apresente, pode sempre ajudar a se compreender a possibilidade dos fenômenos por meios que nada tem de sobrenatural. Se for uma hipótese, não se lhe pode entretanto negar o mérito da racionalidade e da probabilidade, e que vale tanto quanto todas as explicações tentadas pelos negadores para provar que tudo não passa de ilusão, fantasmagoria e evasiva nos fenômenos espíritas.(10)

 TEORIA DA ALUCINAÇÃO

             111. Os que não admitem a existência do mundo incorpóreo e invisível pensam tudo explicar pela palavra alucinação. A definição dessa palavra é conhecida: quer dizer um engano, uma ilusão de quem pensa ter percepções que na realidade não tem (do latim allucinari, errar, formado de ad lucem). Mas os sábios ainda não deram, que o saibamos, a sua razão fisiológica.

            A Óptica e a Fisiologia não tendo mais segredos para eles, ao que parece, como não puderam explicar ainda a natureza  e a origem das imagens que se apresentam ao Espírito em determinadas circunstâncias? Eles querem tudo explicar pelas leis da matéria. Que o façam, mas que dêem, através dessas leis, uma teoria da alucinação. Boa ou má, seria pelo menos uma explicação.

            112. A causa dos sonhos não foi jamais explicada pela Ciência. Ela os atribui a um efeito da imaginação, mas não nos diz o que é a imaginação, nem como ela produz essas imagens tão claras e nítidas que às vezes nos aparecem. Isso é explicar uma coisa desconhecida por outra que não o é menos. Tudo fica na mesma.(11)

 Dizem tratar-se de uma lembrança das preocupações do estado de vigília. Mas, mesmo admitindo esta solução, que nada resolve, restaria saber qual é esse espelho mágico que conserva assim a impressão das coisas. Como explicar sobretudo as visões reais jamais vistas no estado de vigília, e nas quais jamais se pensou? Só o Espiritismo nos pode dar a chave desse estranho fenômeno que passa despercebido por ser muito comum, como todas as maravilhas da Natureza que menosprezamos.

            Os sábios não quiseram ocupar-se com a alucinação, mas quer seja real ou não, trata-se de um fenômeno que a Fisiologia deve poder explicar, sob pena de confessar a sua incompetência. Se um dia um sábio resolver dar, não uma definição, mas, uma explicação fisiológica desse fenômeno, teremos de ver se a teoria resolve todos os casos, se não omite os fatos tão comuns de aparições de pessoas no momento da morte, se esclarece à razão da coincidência da aparição com a morte da pessoa. Se fosse um fato isolado poder-se-ia atribuí-lo ao caso, mas como é bastante freqüente o acaso não o explica. Se aquele que viu a aparição houvesse tido a idéia de que a pessoa estava para morrer, ainda bem. Mas aparição é na maioria das vezes da pessoa de quem menos se pensa: a imaginação, portanto, nada tem com isso.

            Ainda menos se pode explicar pela imaginação o conhecimento das circunstâncias da morte, de que nada se sabia. Os partidários da alucinação dirão que a alma (se é que admitem a alma) tem momentos de superexcitação em que as suas faculdades são exaltadas? Estamos de acordo, mas quando o que ela vê é real, não se trata de ilusão. Se na sua exaltação a alma vê à distância, é que ela se transporta, e se a nossa alma pode se transportar, por que a da outra pessoa não se transportaria para nos ver? Que na sua teoria da alucinação queiram levar em conta esses fatos, não se esquecendo de que uma teoria a que se podem opor fatos que a contrariem é necessariamente falsa ou incompleta. Enquanto esperamos a sua explicação, vamos tentar emitir algumas idéias a respeito.(12)

            113. Os fatos provam que há aparições verdadeiras, que a teoria espírita explica perfeitamente, e que só podem negar os que nada admitem fora do organismo. Mas ao lado dessas visões reais existem alucinações, no sentido que se dá à palavra? Não se pode duvidar. Qual a sua origem? São os Espíritos que nos colocam na pista, pois a explicação nos parece estar inteira nas respostas às seguintes perguntas:

            1. As visões são sempre reais, ou são algumas vezes efeitos da imaginação? Quando vemos em sonho, ou de outra maneira, o Diabo ou outras coisas fantásticas, que portanto não existem não se trata apenas de imaginação?

        —  Sim, algumas vezes, quando a pessoa está chocada por certas leituras ou por estórias de feitiçaria, lembra-se delas e acredita ver o que não existe. Mas já dissemos também que o Espírito, através do seu envoltório semimaterial, pode tomar todas as formas para se manifestar. Um Espírito brincalhão pode aparecer com chifres e garras, se o quiser, para zombar da credulidade, como um Espírito bom pode aparecer de asas e de maneira radiosa.

    – Podem-se considerar como aparições os rostos e outras imagens que muitas vezes se mostram quando cochilamos ou simplesmente quando fechamos os olhos?     

    — Quando os sentidos se entorpecem o Espírito se libera e pode ver, perto ou à distância, o que não podia ver com os olhos. Essas imagens quase sempre são visões, mas podem ser também o efeito de impressões que a vista de certos objetos deixou no cérebro, que conserva os seus traços como conserva os sons. O Espírito liberto vê então no seu próprio cérebro as impressões ali fixadas como numa chapa fotográfica. A variedade e a mistura dessas impressões formam conjuntos bizarros e fugitivos, que se esfumam quase imediatamente, malgrado os esforços que se façam para retê-los. É a uma causa semelhante que se devem atribuir certas aparições fantásticas que nada tem de real e se produzem freqüentemente nas doenças.

    Admite-se que a memória é o resultado das impressões conservadas pelo cérebro. Mas por que estranho fenômeno essas impressões tão variadas e múltiplas não se confundem? Eis um mistério impenetrável, mas não mais estranho que o das ondas sonoras que se cruzam no ar e se conservam distintas. Num cérebro são e bem organizado essas impressões são nítidas e precisas; num estado menos favorável se diluem e se confundem; daí a perda de memória ou a confusão de idéias. Isso parece menos estranho quando se admite, como na frenologia, uma destinação especial para cada parte e mesmo para cada fibra do cérebro.

        As imagens transmitidas ao cérebro pelos olhos deixam ali a sua impressão, que permite lembrar-se de um quadro como se ele estivesse presente, embora se trate de uma questão de memória, pois nada se vê. Ora, num estado de emancipação a alma pode ver o cérebro e nele reencontra essas imagens, sobretudo as que mais a tocaram, segundo a natureza das suas preocupações ou disposições íntimas. É assim que reencontra a impressão das cenas religiosas, diabólicas, dramáticas, mundanas, das figuras de animais bizarros que viu outrora em pintura ou ouviu em narrações, porque estas deixam também as suas impressões. Assim, a alma vê realmente, mas apenas uma imagem fotográfica no cérebro.

        No estado normal essas imagens são fugitivas, efêmeras, porque todas as sessões cerebrais funcionam livremente. Mas na doença o cérebro se enfraquece, desaparece o equilíbrio geral dos órgãos cerebrais, somente alguns se mantêm ativos enquanto outros de certa maneira são paralisados. Decorre disso permanência de certas imagens que não se esvaem, como no estado normal, com as preocupações da vida exterior. Essa a verdadeira alucinação e a causa primária das idéias fixas.

            Como se vê, explicamos essa anomalia por uma lei fisiológica muito conhecida, que é a das impressões cerebrais. Mas foi sempre necessário fazer intervir a alma. Ora se os materialistas ainda não puderam dar uma solução satisfatória desse fenômeno é por não quererem admitir a alma. Por isso dirão que a nossa explicação é má, pois nos apoiamos num princípio que é contestado. Mas contestado por quem? Por eles, e admitido pela imensa maioria, desde que há homens na Terra. A negação de algumas não pode constituir-se em lei.

            Nossa explicação é boa? Damo-la pelo que possa valer na falta de outra, e, se quiserem, a título de simples hipótese, à espera de melhor. Como está, pode explicar todos os casos de visões? Certamente não mas desafiamos todos os fisiologistas a apresentarem um que, segundo as suas opiniões exclusivas, expliquem todos. Porque nada apresentam quando pronunciam as palavras sacramentais de superexcitação e exaltação. Pois se todas as teorias sobre a alucinação são insuficientes para explicar todos os fatos, é que há no caso algo mais do que a alucinação propriamente dita. Nossa teoria seria falsa se a aplicássemos a todos os casos de visões, pois alguns poderiam contradizê-la. Pode ser justa, se aplicada a apenas alguns efeitos.(13)

(1) O respeito às leis naturais é um dos princípios espíritas. A mediunidade, como todas as faculdades humanas, deve desenvolver-se normalmente, nunca de maneira forçada. (N. do T.)

(2) O perispírito só aparece integral nas visões, compreendendo-se o termo visõescomo manifestações visuais do Espírito em corpo inteiro. Nas outras formas de manifestações ele apenas projeta as imagens que deseja, como nesse caso das chamas. (N. do T.)

(3) Servius Tullius, sexto rei de Roma (578-534 a.C.) nasceu escravo de Tarquínio Prisco, que o fez educar, e sucedeu a ele no trono por decisão popular. Ampliou Roma, aumentou suas muralhas, estruturou as classes e realizou grandes obras. Era um predestinado. (N. do T.)

(4)  Essa afirmação não contraria o princípio espírita da evolução. Pelo contrário, o endossa, mostrando apenas que o Espírito (a palavra escrita assim, com “E” maiúsculo, representa o ser espiritual do homem) não pode encarnar no reino animal. Ver Metempsicose, nº 611 a 613 de O Livro dos Espíritos.(N. do T.)

(5) Kardec se refere à arte vulgar de interpretação dos sonhos e não aos processos psicológicos hoje empregados na terapêutica. Quanto a esses processos, referem-se apenas a um aspecto dos sonhos, realmente significativo do ponto de vista psicológico, mas muitas vezes mal interpretado, por falta de visão de conjunto e que escolas como a de Karl Jung já procuram atingir. (N. do T.)

(6) Entre outros, o Dr. Home. (A esta nota de Kardec devemos acrescentar os fatos atuais constantes de experiências e observações parapsicológicas. Ver, entre outros. Canais Ocultos da Mente de Louisa Rhine). (N. do T.)

(7) Entre esses motivos figuram as condições da prova por que passam a pessoa ou o Espírito, os inconvenientes emocionais para a pessoa, as complicações familiais que poderia resultar e assim por diante. (N. do T.)

(8) As pesquisas parapsicológicas da atualidade confirmam plenamente essa explicação. A escola do Rhine sustenta a inexistência de barreiras físicas para a transmissão do pensamento e a percepção à distância e a escola russa tentou em vão provar o contrário. (N. do T.)

(9) Moscas amauróticas são pontos negros que aparecem na visão por motivo de atrofia do nervo óptico, produzindo cegueira parcial ou total sem prejuízo do globo ocular. Amaurose ou gota-serena. (N. do T.)

(10) A posição de Kardec é inegavelmente científica. Essa teoria do perispírito não foi desmentida nestes cem anos. Pelo contrário, as hipóteses psicológicas atuais confirmam essa teoria no campo da Parapsicologia. Vejam-se as hipóteses de Carington sobre as estruturas de sensas e psicons, as de Soal, Broad, Tishner e outros. (N. do T.)   

(11) As explicações atuais ainda são incompletas. Somente com as pesquisas parapsicológicas a Ciência começou a avançar, recentemente, no rumo certo que o Espiritismo indicou há mais de um século: às razões psicofisiológicas é necessário acrescentar as espirituais. (N. do T.)

(12) Kardec já mostrava, há cem anos, a insuficiência das hipóteses do inconsciente excitado com que ainda hoje alguns adversários, travestidos de parapsicólogos, tentam explicar fenômenos tipicamente espirituais. Veja-se a precisão da frase: a alma tem momentos de superexcitação em que as suas faculdades são exaltadas. Os teóricos atuais, ainda confirmando a previsão de Kardec, referem-se à mente, procurando excluir a alma dos fenômenos para não dar margens às interpretações espíritas. Mas a verdade é que as teorias deste livro estão sendo confirmadas dia a dia nas pesquisas parapsicológicas, queiram ou não queiram os contraditores. (N. do T.)


(13) As teorias atuais da alucinação referem-se em geral a alterações do sistema nervoso, com excitação dos neurônios sensoriais, especialmente os da visão e da audição. Insiste-se na explicação fisiológica de todos os casos. Mas a recente aceitação científica dos fenômenos paranormais abriu perspectivas nesse campo. Os casos referidos por Kardec são aceitos como de natureza extrafísica por toda a escola psicológica de Rhine e mesmo as escolas fisiológicas admitem a veracidade das percepções à distância, da transmissão do pensamento, das previsões e da retrocognição ou visão do passado. Pratt e outros, nos Estados Unidos, pesquisam com o nome de fenômenos theta os casos de comunicação espírita. A alma, como afirma Kardec, mostra-se novamente indispensável à formulação de uma teoria satisfatória da alucinação. (N. do T.)

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